quarta-feira, agosto 14, 2024

Viver

Quero viver
simplesmente viver
Silenciar o rumorejar de vozes
O seu ruidoso e incessante lamento que
me ensurdece a suave musica do silêncio

Quero esquecer que existe outro mundo lá fora
Politicos, guerras, aquecimento global
Quero a ignorante felicidade

Quero apenas a simplicidade da vida a acontecer
O calor do sol na cara 
Uma cálida brisa de Agosto
O sabor do sal na pele
o teu toque
Um sorriso inocente
E tu, num assombro, sempre dentro de mim,
Quero viver, simplesmente viver

segunda-feira, agosto 14, 2023

Fogo

Fogo e fúria

Ferve o sangue

Neste incêndio de Agosto

És a chama na noite

Espiral nas estrelas


Chamas por mim

E eu, naturalmente,

Rendo-me ao destino

Da luz entrelaçada

Em que me envolves.

Estrela ou fogo

                   Somos um

domingo, agosto 14, 2022

Poema de Agosto

Vou sendo verso solto sem nunca entrar em cena
E sem nenhuma estrofe onde encontre aprumo.
Num onírico e utópico desejo de ser poema,
Sou palavra que vagueia, sem rima nem rumo.

sábado, agosto 14, 2021

Poema das palavras desconhecidas

Hei-de escrever um poema
De palavras germinadas em silêncio
As que apenas se pressentem no rumor do mar
De que só os búzios solitários e a lua são testemunhas,
Feito de palavras segredadas por uma orquestra de cigarras 
numa qualquer noite sinfónica Alentejana.

Hei-de escrever um poema
Desenhado com palavras invisíveis
Para-palavras, sem limites, para que nelas caibam
a emoção que sente a criança que repousa no regaço da mãe,
 o corpo exausto de ser feliz.

Hei-de escrever um poema
Sem palavras, sem forma
Despido, num Eden por inventar,
Poema destino sem nunca ter partido.

sexta-feira, agosto 14, 2020

Passagem

Ao longe uma casa

Da janela outrora fechada

                            abrem-se

                                    asas

Convocam o verso do reverso,

o dia que olha o espelho da noite


Uma brisa

    entra leve,

             lenta,

quase imóvel como só a eternidade sabe

Em carícia derramada envolve o espaço

como a espuma das ondas

que ao longe confunde o mar com o céu


Uma luz

Claridade súbita espraiada no véu

com que a noite se veste de madrugada

Fechando os olhos, acordo

e só então vejo a alvorada renovada

que num beijo dissolve a escuridão

De olhos fechados distingues a noite do dia?


Desvanecida a janela

Indistinta a areia dos dedos que a seguram

                                            de onde escorre

                                                            tempo

O silêncio declama palavras que adivinhamos sem as dizer

E debaixo da pele pulsa síncrona uma só voz

quarta-feira, agosto 14, 2019

Zahir

Existe um dia
Do tempo sem tempo
Em que chegaste sem aviso,
Teu rosto madrugada maior
Da noite que findava de improviso

Irrompe o grito da virgem alvorada
Desperta o louco confuso
Pasmo de respirar pela primeira vez
A vida no teu olhar anunciada

Ignorava ainda
Que teu corpo subtil guardava
Todas as cores
Todos os cheiros
Todos os sons e sabores

Meu zahir inesperado,
Plantaste teus olhos nos meus
Julgando-me cego, floria afinal
A paleta que iluminou o meu horizonte

Teus pés fizeram meu caminho interior,
Jornada invisível e ausente
Mas sempre presente,
Do norte que se faz sul,
Quando sul é o teu nome

Palavras que nascem em ti, por ti
Teu nome, mantra infindável
Meu grito, meu espanto, meu cansaço
Regaço do canto mais fundo da alma

Existe um dia
Do tempo sem tempo,
Que está em todos os dias
Do tempo além do tempo sem tempo
Que se cumpre a cada instante eterno em que existes em mim

'Zahir: Seres ou coisas que têm a terrível virtude de serem inesquecíveis e cuja imagem acaba por enlouquecer as pessoas' - JLB, Zahir em O Aleph

quinta-feira, março 21, 2019