segunda-feira, junho 27, 2005

A tardinha chegava junto de nós dourando-te a pele. E quando pousavas os frutos que colhemos, esvoaçava o aroma a laranja nas ondas do teu cabelo. Hesitava, evitava o seu apelo, fugia o olhar caindo na armadilha das minhas mãos roçarem as tuas. Dedos longos, esguios que desenhavam sonhos quentes no ar que respirávamos. E o que dizíamos já não morava nas palavras que deixavam a nossa boca, e disfarçávamos a cumplicidade apenas com um sorriso infantil.
Podíamos afinal, tu e eu
O calor de Junho, o rumor do silêncio visitado pelas cigarras, a ausência do mundo, feito nosso mundo

Já dizias que me amavas, mesmo sem palavras, que é a forma mais pura de desvendar a essência do amor. Eu sabia-o, sentia-o. Ainda assim pressentia as palavras a palpitar dentro de ti, timidamente querendo despertar, primeiro a lápis, depois a fogo gravadas em mim. Palavras que se fazem tijolos da minha história.