sexta-feira, novembro 28, 2008

Hoje aconteceu uma coisa extraordinária: Um pássaro na varanda. Um pardal, após uma noite de temporal numa manhã de um dia de Outono avançado. De dorso dourado , esplendoroso, debatia-se sem conseguir abrir as asas. Calcei uns sapatos, protegi-me com um roupão, e com um pano gasto acolhi o pássaro entre as minhas mãos. Tinha os olhos fechados, e estremecia. Há quanto tempo estaria ali? Teria sido a noite que findava que o tinha conduzido até à beira da minha janela? Estaria lá há mais tempo, sem que me tivesse apercebido?

Tentei aquece-lo dentro da palma das minhas mãos, acalmar a pulsão do seu corpo que gritava urgência. Podia sentir o seu coração que palpitava hesitante. Tão frágil. Destapei um pouco, e pude comprovar novamente o seu dorso orgulhoso, dourado (seria o sol espelhado em suas penas). Calmamente abriu os olhos, que sussurravam tranquilidade. Acenei ternura numa leve carícia sobre a sua cabeça. O seu olhar pacifico, lentamente aproximou-se

Houve um jovem Pardal que numa manhã de primavera pousou na minha varanda. Não conseguia voar e durante três dias alimentei-o com miolo de pão dissolvido em água. Houve um jovem Pardal que me encheu de vida e esperança as manhãs daquela Primavera. Houve um jovem pardal de dorso dourado.

quarta-feira, junho 25, 2008

Sonha com um príncipe encantado que cuidará dela. Mas nem sempre. No entanto ilude-se no sonho de um castelo que não é. Finge não ver, finge não saber, pois o sonho sobrepõe-se

Mexe no cabelo quando se apercebe que é observada. Poderá ele? As mãos constrangidas entrelaçadas sobre as pernas nervosas as mãos. Olhos que fogem porque desejam ser encontrados.

Antes ao espelho, ajeita o cabelo o corpo observa com os olhos que insistem em

Descobre no reflexo da janela uma figura que não a sua que desliza o cabelo em torno do pescoço e pousa-o sobre a respiração quase nua. E ela observa. Questiona.

Fecha os olhos.

terça-feira, junho 24, 2008

Primeiro fica tudo branco, um branco de vazio. Só depois vem a sombra enorme avassaladora que escurece os recantos da alma.

Esta é a descrição simples, genuína, mas de uma clarividência espantosa, do processo de luto, de quem não tem muitas palavras, mas tem o sentimento profundo das coisas essenciais da vida.

Dar sentido à vida. A cada segundo da nossa vida. Não desperdiçar a Dádiva maior que permite tudo o resto.

Pois a vida é poesia a cada instante, e nem sempre temos tempo para ler poesia.

sexta-feira, abril 18, 2008

Escrever implica fechar à porta ao resto do mundo. Conseguir encontra-me comigo próprio, a sós, comigo em toda a sua plenitude de virtudes e defeitos, sem redutores de dor, sem niveladores de emoções, sem ponto médio, apenas a absoluta irregularidade do ser, de ser Vivo.

E cada vez é mais difícil largar o Porto de refugio. Não te esqueças pois que a coragem só mora à porta do medo. E a planície da savana só serve ao leão que dorme.