quarta-feira, agosto 14, 2019

Zahir

Existe um dia
Do tempo sem tempo
Em que chegaste sem aviso,
Teu rosto madrugada maior
Da noite que findava de improviso

Irrompe o grito da virgem alvorada
Desperta o louco confuso
Pasmo de respirar pela primeira vez
A vida no teu olhar anunciada

Ignorava ainda
Que teu corpo subtil guardava
Todas as cores
Todos os cheiros
Todos os sons e sabores

Meu zahir inesperado,
Plantaste teus olhos nos meus
Julgando-me cego, floria afinal
A paleta que iluminou o meu horizonte

Teus pés fizeram meu caminho interior,
Jornada invisível e ausente
Mas sempre presente,
Do norte que se faz sul,
Quando sul é o teu nome

Palavras que nascem em ti, por ti
Teu nome, mantra infindável
Meu grito, meu espanto, meu cansaço
Regaço do canto mais fundo da alma

Existe um dia
Do tempo sem tempo,
Que está em todos os dias
Do tempo além do tempo sem tempo
Que se cumpre a cada instante eterno em que existes em mim

'Zahir: Seres ou coisas que têm a terrível virtude de serem inesquecíveis e cuja imagem acaba por enlouquecer as pessoas' - JLB, Zahir em O Aleph