sexta-feira, agosto 14, 2020

Passagem

Ao longe uma casa

Da janela outrora fechada

                            abrem-se

                                    asas

Convocam o verso do reverso,

o dia que olha o espelho da noite


Uma brisa

    entra leve,

             lenta,

quase imóvel como só a eternidade sabe

Em carícia derramada envolve o espaço

como a espuma das ondas

que ao longe confunde o mar com o céu


Uma luz

Claridade súbita espraiada no véu

com que a noite se veste de madrugada

Fechando os olhos, acordo

e só então vejo a alvorada renovada

que num beijo dissolve a escuridão

De olhos fechados distingues a noite do dia?


Desvanecida a janela

Indistinta a areia dos dedos que a seguram

                                            de onde escorre

                                                            tempo

O silêncio declama palavras que adivinhamos sem as dizer

E debaixo da pele pulsa síncrona uma só voz