Hoje aconteceu uma coisa extraordinária: Um pássaro na varanda. Um pardal, após uma noite de temporal numa manhã de um dia de Outono avançado. De dorso dourado , esplendoroso, debatia-se sem conseguir abrir as asas. Calcei uns sapatos, protegi-me com um roupão, e com um pano gasto acolhi o pássaro entre as minhas mãos. Tinha os olhos fechados, e estremecia. Há quanto tempo estaria ali? Teria sido a noite que findava que o tinha conduzido até à beira da minha janela? Estaria lá há mais tempo, sem que me tivesse apercebido?
Tentei aquece-lo dentro da palma das minhas mãos, acalmar a pulsão do seu corpo que gritava urgência. Podia sentir o seu coração que palpitava hesitante. Tão frágil. Destapei um pouco, e pude comprovar novamente o seu dorso orgulhoso, dourado (seria o sol espelhado em suas penas). Calmamente abriu os olhos, que sussurravam tranquilidade. Acenei ternura numa leve carícia sobre a sua cabeça. O seu olhar pacifico, lentamente aproximou-se
Houve um jovem Pardal que numa manhã de primavera pousou na minha varanda. Não conseguia voar e durante três dias alimentei-o com miolo de pão dissolvido em água. Houve um jovem Pardal que me encheu de vida e esperança as manhãs daquela Primavera. Houve um jovem pardal de dorso dourado.